O Teatro de Bonecos é uma
modalidade que atrai cada vez mais artistas e público, resultando em eventos
como o “Festival do Boneco”, que já contou com duas excelentes edições
promovidas pela Cia. de Teatro Nu Escuro, em Goiânia.
A escolha da atriz e bonequeira
gaúcha Genifer Gerhardt, no espetáculo “Mundo Miúdo”, que abriu, na última
quinta (03/05), no Teatro do Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia de Goiás, a 12ª edição do Festival do Teatro Brasileiro - Cena
Gaúcha, no entanto, não é muito comum. Ela decidiu trabalhar com o gênero
conhecido como Teatro Lambe-lambe, em alusão ao ofício dos fotógrafos que
trabalhavam (e ainda trabalham, em algumas cidades) em praças e calçadas,
registrando imagens de pessoas com suas caixas fotográficas.
“Mundo Miúdo”, como a própria
designação informa, apresenta personagens minúsculas, manipuladas durante cerca
de 2 minutos, para um único expectador.
Toda a criação, carpintaria e
pintura da caixa cênica, iluminação, cenários, confecção e manipulação dos
bonecos é de Genifer Gerhardt, que propõe o inverso da ação efetuada pelo
fotógrafo lambe-lambe, já que o fotografado (espectador) é quem observa o que
mostra o interior da caixa escura, e não o fotógrafo.
O que, a princípio, poderia
parecer somente a exposição de imagens em uma caixa, neste caso, se converte em
um espetáculo completo, com cortina, personagens, cenário, iluminação
(controlada por Genifer com um dos pés, por meio de um pedal) e trilha sonora
de Renato Muller (acompanhada pelo espectador com o auxílio de um fone de
ouvido).
“Mundo Miúdo”, na verdade, é o
nome de toda a estrutura envolvida na execução do trabalho, a qual pode ser
utilizada para a apresentação de cenas variadas. Trata-se de uma pequena caixa
de madeira, com pouco mais de 30 centímetros, sustentada por um tripé, que pode
ser regulado de acordo com a altura do espectador.
A cena que tive a oportunidade
de assistir intitula-se “Vó”. A abertura da cortina revela a presença de uma
velha senhora de traços bem feitos e marcantes (ainda que não muito belos),
manipulada pela mão direita de Genifer, enquanto sua mão esquerda também é
utilizada como personagem. Há uma combinação das técnicas de manipulação direta
e fio, para a execução dos movimentos desejados.
O cenário compõe-se de material
bastante simples (carretel de madeira que serve como mesa, bateria que se
transforma em rádio e caixa de fósforo utilizada como mobiliário), mas em
harmonia total com a cena apresentada. Até um palito de fósforo serve como
bengala para a velha senhora.
Foi interessante acompanhar não
só a representação da cena, mas, também, a reação e o encantamento de cada um
daqueles que a assistiam, satisfação, esta, provocada não só pelo delicado
trabalho desenvolvido e apresentado por Genifer, mas, também por sua grande
simpatia no acolhimento de sua plateia de um único espectador, o qual recebia,
ao término do espetáculo, um selo também miúdo, retratando a Vó apresentada na
peça, bem como o endereço do seu site (www.genifer.com.br),
o qual também vale a pena visitar.
O Teatro, já cunhado como a arte
do efêmero, por atingir uma plateia quantitativamente limitada, que assiste
sempre a uma encenação diferente, mesmo em se tratando do mesmo espetáculo,
neste caso, atinge o ápice da efemeridade, já que uma única pessoa pode
testemunhar cada apresentação, tonando-a algo íntimo e único.
Gilson P. Borges
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