“Cinta Liga/Desliga” foi o espetáculo apresentado na última quarta-feira
(09/05), pelo Núcleo Trompas de Falópio, no Teatro do Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás, dentro da programação da 12ª edição do
Festival do Teatro Brasileiro - Cena Gaúcha.
Com direção de Luciane Olendzki e atuação de Aline Tanaã Tavares,
Grasiela Muller e Odelta Simonetti, a trama investe na linguagem do clown, para
expressar facetas do mundo feminino.
A sinopse do espetáculo erroneamente leva à ideia de que trata-se de um
roteiro no estilo “confissões de adolescentes”, mas, quem esperava encontrar
esta vertente decepcionou-se. Com predominância de rotinas circenses, não há
intenção alguma em discutir os problemas e características do mundo feminino,
mesmo porque os diálogos são quase inexistentes e as atrizes só se manifestam
vocalmente, de forma explícita, no final do espetáculo, quando cantam uma
música.
Apesar de apresentado como peça teatral, o espetáculo ficaria mais
adequado em outro tipo de espaço, já que investe na exibição dos números mais
popularizados na rotina circense, atendendo perfeitamente ao estilo comédia
“pastelão”, inteiramente baseado na interação com o público, a qual perdeu-se
um pouco no espaço do palco italiano. Por exemplo, quem estava na plateia
superior reclamava que não podia ver o que se passava na plateia inferior,
quando as atrizes deixavam o palco.
O que diferencia a apresentação da rotina normal do palhaço no picadeiro
é que sua figura masculina é substituída pela de três palhaças, as quais seguem
um roteiro que passa pela preparação do corpo (depilação - inclusive pubiana,
por exemplo), paquera e danças eróticas, com o único fim de conseguir um
“príncipe encantado”. Este “príncipe” é selecionado, já no final do espetáculo,
como “voluntário” e levado ao palco, para participar de uma cena que
caracteriza-se, inicialmente, como uma das melhores do espetáculo, na qual,
como um “Cinderello”, cada uma das personagens tenta lhe fazer caber nos pés o
sapato que proporcionará o sonhado casamento e final feliz. Tal cena, contudo,
é quebrada, quando uma das atrizes senta-se em seu colo, posiciona sua mão em
partes íntimas do corpo e lhe beija repetidamente a boca.
Nada de novo ou “escandaloso” neste tipo de interação. O próprio Caetano
Veloso já foi literalmente despido em um espetáculo dirigido por José Celso
Martinez Corrêa. A diferença é que quem assiste um espetáculo do Zé Celso já
está ciente de que este, provavelmente, conterá cenas de nudez e que qualquer
tipo de interação pode acontecer durante o desenrolar da peça, estando, de
certa forma, previamente preparado para aceitar este tipo de jogo. Já em “Cinta
Liga/Desliga”, com a presença da figura de clowns e uma sinopse com a conotação
de “confissões de adolescentes”, este jogo se torna, de certa forma, impróprio,
mesmo porque não contribui em nada para a dramaturgia do espetáculo, mas, única
e exclusivamente, para despertar o riso fácil e gratuito.
Se os papéis se invertessem, e um palhaço selecionasse uma “voluntária”,
a fizesse sentar-se em seu colo, passasse suas mãos em seu corpo e lhe beijasse
a boca, seriam grandes as chances de que ele fosse processado por assédio ou
molestação sexual.
Por sorte do elenco, o referido “voluntário” se dispôs a participar do
jogo, mas é bom lembrar que existe um espaço pessoal que, mesmo com o
rompimento da quarta parede, deve ser, de certa forma, observado e respeitado,
e que o riso gratuito não deve ser perseguido obstinadamente a qualquer preço.
O carisma e talento apresentado pelas três atrizes poderiam ser bem melhor
aproveitados na construção do espetáculo.
Gilson P. Borges
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