quarta-feira, 9 de maio de 2012

“Borboletas de Sol de Asas Magoadas”


            O público do Teatro do Centro Municipal de Cultura Goiânia Ouro pôde conferir, na última terça-feira (04/05), dentro da programação da 12ª edição do Festival do Teatro Brasileiro - Cena Gaúcha, o espetáculo “Borboletas de Sol de Asas Magoadas”, com direção, roteiro, atuação e produção da atriz Evelyn Ligocki, de Porto Alegre.
            O espetáculo surgiu como projeto de graduação de Evelyn, no Departamento de Arte Dramática da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e baseou-se em entrevistas e pesquisas de campo, envolvendo o mundo dos travestis.
            A apresentação iniciou-se fora do Teatro, com a atriz já caracterizada com sua personagem, dialogando com o público que aguardava na fila. No palco, o cenário compunha-se, basicamente, de uma penteadeira com cadeira e um banco, com certa predominância dos tons branco e rosa, ladeados por almofadas e cadeiras nas duas laterais, nas quais os espectadores eram convidados a se sentar, já que a intenção era estabelecer um clima de confissões a serem feitas às pessoas que visitavam a personagem.
            Por meio da utilização da maquiagem, timbre de voz e da peruca loira, Evelyn realmente conseguiu criar na plateia a dúvida se era um homem ou uma mulher que estava interpretando o papel do travesti Betty.
            O espetáculo divide-se, basicamente, em duas partes: uma cômica e outra dramática. Na parte cômica, Betty, em intensa interação com o público, discorre sobre características e trejeitos de travestis, com luz forte no palco e luz de plateia acesa. Na parte dramática, é utilizada luz lateral dos dois lados do palco e focos de luz para criar o clima no qual Betty simula uma noite na calçada, onde é humilhada, agredida e, por fim, estuprada.
            Esta divisão, entretanto, foi quase ignorada por grande parcela do público (um dos piores já presentes no Teatro do Centro de Cultura), que atendia celular, fazia piadinhas estúpidas o tempo todo e divertiu-se muito, com altas gargalhadas, enquanto a atriz se esforçava para recriar a trágica cena do estupro. Tal falta de percepção, contudo, não foi apenas culpa do público, mas, principalmente, do roteiro, que, de uma situação interativa de intensa comicidade, passa, sem a devida transição ou explicação, para o trágico, que, posteriormente, também deságua abruptamente em uma coreografia de boate, que culmina no fim brusco do espetáculo, sem qualquer conclusão ou explicação.
            A sinopse do espetáculo afirma que “Betty pretende humanizar sua figura, desmistificar os travestis, romper clichês e preconceitos”. Infelizmente, tais objetivos não são alcançados, pois o cenário, a caracterização da personagem e as situações cômicas e dramáticas apresentadas são completamente estereotipadas, reproduzindo exatamente o clichê que as pessoas não esperavam encontrar, quando se depararam com o belíssimo e delicado título “Borboletas de Sol de Asas Magoadas”.
            Uma cena bonita chamou atenção no espetáculo: durante o desenrolar da peça, uma pessoa, sentada ao canto do palco, utilizava a Língua Brasileira de Sinais (Libras) para traduzir as falas da atriz a um grupo que acompanhava, atentamente, tudo aquilo que ocorria no palco, em um verdadeiro exemplo de inclusão.

Gilson P. Borges

Nenhum comentário:

Postar um comentário