O público do Teatro do Centro Municipal de Cultura Goiânia Ouro pôde conferir,
na última terça-feira (04/05), dentro da programação da 12ª edição do Festival
do Teatro Brasileiro - Cena Gaúcha, o espetáculo “Borboletas de Sol de Asas
Magoadas”, com direção, roteiro, atuação e produção da atriz Evelyn Ligocki, de
Porto Alegre.
O espetáculo surgiu como projeto de graduação de Evelyn, no Departamento de
Arte Dramática da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e baseou-se em
entrevistas e pesquisas de campo, envolvendo o mundo dos travestis.
A apresentação iniciou-se fora do Teatro, com a atriz já caracterizada com sua
personagem, dialogando com o público que aguardava na fila. No palco, o cenário
compunha-se, basicamente, de uma penteadeira com cadeira e um banco, com certa
predominância dos tons branco e rosa, ladeados por almofadas e cadeiras nas
duas laterais, nas quais os espectadores eram convidados a se sentar, já que a
intenção era estabelecer um clima de confissões a serem feitas às pessoas que
visitavam a personagem.
Por meio da utilização da maquiagem, timbre de voz e da peruca loira, Evelyn
realmente conseguiu criar na plateia a dúvida se era um homem ou uma mulher que
estava interpretando o papel do travesti Betty.
O espetáculo divide-se, basicamente, em duas partes: uma cômica e outra
dramática. Na parte cômica, Betty, em intensa interação com o público, discorre
sobre características e trejeitos de travestis, com luz forte no palco e luz de
plateia acesa. Na parte dramática, é utilizada luz lateral dos dois lados do
palco e focos de luz para criar o clima no qual Betty simula uma noite na
calçada, onde é humilhada, agredida e, por fim, estuprada.
Esta divisão, entretanto, foi quase ignorada por grande parcela do público (um
dos piores já presentes no Teatro do Centro de Cultura), que atendia celular,
fazia piadinhas estúpidas o tempo todo e divertiu-se muito, com altas
gargalhadas, enquanto a atriz se esforçava para recriar a trágica cena do
estupro. Tal falta de percepção, contudo, não foi apenas culpa do público, mas,
principalmente, do roteiro, que, de uma situação interativa de intensa
comicidade, passa, sem a devida transição ou explicação, para o trágico, que,
posteriormente, também deságua abruptamente em uma coreografia de boate, que
culmina no fim brusco do espetáculo, sem qualquer conclusão ou explicação.
A sinopse do espetáculo afirma que “Betty pretende humanizar sua figura,
desmistificar os travestis, romper clichês e preconceitos”. Infelizmente, tais
objetivos não são alcançados, pois o cenário, a caracterização da personagem e
as situações cômicas e dramáticas apresentadas são completamente
estereotipadas, reproduzindo exatamente o clichê que as pessoas não esperavam
encontrar, quando se depararam com o belíssimo e delicado título “Borboletas de
Sol de Asas Magoadas”.
Uma cena bonita chamou atenção no espetáculo: durante o desenrolar da peça, uma
pessoa, sentada ao canto do palco, utilizava a Língua Brasileira de Sinais
(Libras) para traduzir as falas da atriz a um grupo que acompanhava,
atentamente, tudo aquilo que ocorria no palco, em um verdadeiro exemplo de
inclusão.
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