domingo, 6 de maio de 2012

A Feiticeira


Dentro da minha cabeça pervertida todo texto que eu escrevo deveria irrefutavelmente se parecer com aquilo a que ele se refere. Mania besta de poeta. ~não que eu seja, má né?~ Esse aqui por exemplo deveria se encantador e um abismo para os olhos. Não vai ser, cês fiquem avisados.
Pensa comigo, minha gente: um dia na sua vida cês tão saindo de casa com um amigo ~o sempre presente Robert~ pra assistir uma peça. Normal, já fizeram isso várias vezes, algumas acompanhadas ainda por sua irmã e por eventuais. Chega no teatro, se senta confortavelmente e sem o menos aviso, insuspeitadamente roubam sua alma. Aconteceu comigo muitas vezes. Há provas e mais provas disso, além é claro do meu testemunho e de mais gentes completamente fidedignas.
Um ano mais ou menos se passa e você descobre que o maldito ~Kakaroto~ ladrão estará de volta à cidade. O que você faz? Denuncia à polícia ou vai tirar satisfação. Eu chamo meus amigos para irem perder suas pobres almas junto comigo – que no caso tô devendo uma alma, pro povo lá. Se alguém tiver uma sobrando, favor emprestar. Desculpem, o Cícero e a Aline. Minha intenção não era boa desde o começo eu sabia que todo mundo ia ficar preso naquele palco. Maldade minha.
Cês ainda nem sabem do que eu fiquei aqui tagarelando, mas é tudo culpa das impagáveis artes malucamente mágicas de A Tecelã. É a segunda vez a que assisto essa peça. Ainda não sei como aquilo acontece. Simples assim: não sei. Tá, parcialmente eu sei, mas não acredito.
Eu acho que em algum momento durante os ensaios o pessoal da cia pensou assim: vamos logo destruir as leis da física e perverter os conceitos de tempo e espaço porque a gente pode! Até os mais céticos dos céticos saem de lá acreditando que feitiçaria existe. E eu sei que as três mulheres que agradeceram os aplausos atendem pelo inegável nome de Irmãs Sanderson.
É difícil eu me lembrar de um espetáculo que tenha encabulado tanto o coitado do meu cérebro como esse. Não tem um minuto em que ele não seja lindo. Sim, meu povo, o menor grau a que esse espetáculo chega é a lindura. Isso nivelando por baixo. É um DES-LUM-BRE! Uma mulher tecendo e destecendo seu destino já seria algo muito bonito se não fizessem de repente toda aquela magia feiticeira na frente dos meus olhos. Coisas que aparecem, coisas que somem, coisas que flutuam, bolas que dançam e uma beleza plástica de fazer inveja a qualquer pintor flamengo do século XVI. É algo que me deixa de queixo tombado, arrastado pelo chão. Pela segunda vez. SEGUNDA!
As atrizes, os bonecos, a história tudo é divino demais. A direção desse espetáculo! A sensação de que você está dentro do mais pontual dos relógios suíços onde nada sai fora. Nunca erro nenhum. É uma das formas de perfeição e exatidão mais acachapantes que eu posso imaginar. E todo mundo que estava lá vai assinar embaixo de olhos fechados, provavelmente com o próprio sangue, nisso que eu disse.
Cá entre nós ~que semo tudo amigo e cupincha~ acho que seria de bom tom cada um pegar sua tocha e seu forcado e a gente sair em procissão pra queimar as três atrises. Afinal, bruxas servem pra isso, dar brilho e volume ao fogo ~Wella~
Cada segundo dentro daquele teatro foi uma maravilha que eu não vou poder descrever nem com todas as palavras que eu sei, e olha que são muitas ~édulo, por exemplo~. E o melhor era a reação dos não-iniciados. Os murmúrios, os sustos, os embasbacamentos, as risadas, os sorrisos, os gritinhos, os maravilhamentos e todos aqueles outros sons indicativos de prazer físico. Claro que eu também exsudei todos esse burburinhos prazerosos e mais do que eles desde hoje cedo eu estava, apesar de uma dor de cabeça indigna da minha pessoa, dando gritinhos histéricos, pulando na ponta dos pés e sacudindo as mãos.
Quero deixar o registro aqui de que não tem como eu falar de alguma cena que seja melhor que a outra. É impossível. Pra mim é completamente impossível. Se for falar do que tem de bom nessa peça, senta que lá vem história. Já aviso que quem quiser minha entediante companhia é mais do que provável encontra-la amanhã às dezenove horas no teatro do IFG assistindo embasbacado pela terceira vez A Tecelã.

Danilo Danílovitsch

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