Dentro da minha cabeça pervertida
todo texto que eu escrevo deveria irrefutavelmente se parecer com aquilo a que
ele se refere. Mania besta de poeta. ~não que eu seja, má né?~ Esse aqui por
exemplo deveria se encantador e um abismo para os olhos. Não vai ser, cês
fiquem avisados.
Pensa comigo, minha gente: um dia
na sua vida cês tão saindo de casa com um amigo ~o sempre presente Robert~ pra
assistir uma peça. Normal, já fizeram isso várias vezes, algumas acompanhadas
ainda por sua irmã e por eventuais. Chega no teatro, se senta confortavelmente
e sem o menos aviso, insuspeitadamente roubam sua alma. Aconteceu comigo muitas
vezes. Há provas e mais provas disso, além é claro do meu testemunho e de mais
gentes completamente fidedignas.
Um ano mais ou menos se passa e
você descobre que o maldito ~Kakaroto~ ladrão estará de volta à cidade. O que você
faz? Denuncia à polícia ou vai tirar satisfação. Eu chamo meus amigos para irem
perder suas pobres almas junto comigo – que no caso tô devendo uma alma, pro
povo lá. Se alguém tiver uma sobrando, favor emprestar. Desculpem, o Cícero e a
Aline. Minha intenção não era boa desde o começo eu sabia que todo mundo ia
ficar preso naquele palco. Maldade minha.
Cês ainda nem sabem do que eu
fiquei aqui tagarelando, mas é tudo culpa das impagáveis artes malucamente
mágicas de A Tecelã. É a segunda vez
a que assisto essa peça. Ainda não sei como aquilo acontece. Simples assim: não
sei. Tá, parcialmente eu sei, mas não acredito.
Eu acho que em algum momento durante
os ensaios o pessoal da cia pensou assim: vamos logo destruir as leis da física
e perverter os conceitos de tempo e espaço porque a gente pode! Até os mais
céticos dos céticos saem de lá acreditando que feitiçaria existe. E eu sei que
as três mulheres que agradeceram os aplausos atendem pelo inegável nome de
Irmãs Sanderson.
É difícil eu me lembrar de um
espetáculo que tenha encabulado tanto o coitado do meu cérebro como esse. Não tem
um minuto em que ele não seja lindo. Sim, meu povo, o menor grau a que esse
espetáculo chega é a lindura. Isso nivelando por baixo. É um DES-LUM-BRE! Uma
mulher tecendo e destecendo seu destino já seria algo muito bonito se não
fizessem de repente toda aquela magia feiticeira na frente dos meus olhos.
Coisas que aparecem, coisas que somem, coisas que flutuam, bolas que dançam e
uma beleza plástica de fazer inveja a qualquer pintor flamengo do século XVI. É
algo que me deixa de queixo tombado, arrastado pelo chão. Pela segunda vez.
SEGUNDA!
As atrizes, os bonecos, a
história tudo é divino demais. A direção desse espetáculo! A sensação de que
você está dentro do mais pontual dos relógios suíços onde nada sai fora. Nunca
erro nenhum. É uma das formas de perfeição e exatidão mais acachapantes que eu
posso imaginar. E todo mundo que estava lá vai assinar embaixo de olhos
fechados, provavelmente com o próprio sangue, nisso que eu disse.
Cá entre nós ~que semo tudo amigo
e cupincha~ acho que seria de bom tom cada um pegar sua tocha e seu forcado e a
gente sair em procissão pra queimar as três atrises. Afinal, bruxas servem pra
isso, dar brilho e volume ao fogo ~Wella~
Cada segundo dentro daquele
teatro foi uma maravilha que eu não vou poder descrever nem com todas as
palavras que eu sei, e olha que são muitas ~édulo, por exemplo~. E o melhor era
a reação dos não-iniciados. Os murmúrios, os sustos, os embasbacamentos, as
risadas, os sorrisos, os gritinhos, os maravilhamentos e todos aqueles outros
sons indicativos de prazer físico. Claro que eu também exsudei todos esse
burburinhos prazerosos e mais do que eles desde hoje cedo eu estava, apesar de
uma dor de cabeça indigna da minha pessoa, dando gritinhos histéricos, pulando
na ponta dos pés e sacudindo as mãos.
Quero deixar o registro aqui de
que não tem como eu falar de alguma cena que seja melhor que a outra. É
impossível. Pra mim é completamente impossível. Se for falar do que tem de bom
nessa peça, senta que lá vem história. Já aviso que quem quiser minha
entediante companhia é mais do que provável encontra-la amanhã às dezenove
horas no teatro do IFG assistindo embasbacado pela terceira vez A Tecelã.
Danilo Danílovitsch
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