domingo, 6 de maio de 2012

"A Tecelã"


Mais um espetáculo de qualidade destacou-se no último domingo (06/05), no Teatro do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás, dentro da programação da 12ª edição do Festival do Teatro Brasileiro - Cena Gaúcha.

Com direção de encenação, dramaturgia e concepção estética de Paulo Balardim, a Cia. gaúcha Caixa do Elefante apresentou o espetáculo “A Tecelã”, personagem capaz de tecer e materializar (até certo ponto) todos os seus desejos.

Começando com a manipulação de um novelo de lã, passando pela utilização de uma cadeira, transformada em barriga e em mesa, sobre a qual surgem, por meio de técnicas de ilusionismo, um copo, um pedaço de pão, uma garrafa e um chapéu, a Tecelã materializa, para preencher a solidão dos seus dias de labor, a figura do seu “príncipe encantado”, o qual, por algum desvio na tessitura, ou porque não é possível controlar o fio do destino, se transforma em seu rei e, por fim, em seu algoz.

O elenco compõe-se das atrizes Carolina Garcia, Valquíria Cardoso e Viviana Schames, mas, algumas vezes, é difícil identificar quantas pessoas estão realmente em cena, já que a perfeita manipulação não permite distinguir, claramente, quem é gente e quem é boneco. Alguns bonecos, como o do “príncipe”, por exemplo, parecem, em certos momentos, realmente ganhar vida, como ocorre na cena em que ele e a Tecelã se abraçam no piso do palco, o qual, por ser elevado, dá a ideia de apresentar uma caixa cênica dentro de outra caixa cênica, onde bonecos (e também atores) são manipulados. O mesmo ocorre com a primeira aparição do boneco da tecelã, que, por alguns instantes, confunde-se com a figura da atriz que a interpreta.

Ao ilusionismo unem-se a projeção de imagens, popularizada pelo grupo Lanterna Magika, de Praga, Teatro de Sombras, mímica e técnicas de manipulação de bonecos, como a manipulação direta e com vara, que estão presentes, mas são até difíceis de serem identificadas, pois a iluminação do espetáculo, concebida por Bathista Freire e Daniel Fetter, é tão precisa, harmoniosa e bem desenhada que acaba camuflando a técnica e ressaltando a beleza das imagens.

A trilha sonora composta originalmente para o espetáculo por Nico Nicolaiewsky é de fundamental importância para delimitar o ritmo e o clima tenso, trágico ou poético de cada cena (e o faz muito bem), já que a peça não possui diálogos falados.

A cena de composição do “príncipe” pareceu um pouco longa, mas nada que chegue a comprometer a beleza do espetáculo.

A perfeita integração entre iluminação, trilha sonora, figurino, interpretação e manipulação destacam, também, o mérito da direção, que conseguiu proporcionar ao público um espetáculo poético de grande encantamento, por meio da protagonista Carolina Garcia (sem esquecer o mérito do trabalho executado conjuntamente por toda a equipe), que apresenta um resultado digno daquele tecido por Aracne, na Mitologia Grega, só que sem terminar transformada em aranha pela deusa Atena, devido à inveja nela despertada pela habilidade da tecelã.

Gilson P. Borges

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